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Inventora de tecnologia inovadora para combater doenças bacterianas em cítricos ganha o prêmio Ingenias LATAM 2025 para o Brasil

A pesquisadora Dra. Alessandra Alves de Souza, geneticista e inventora do uso na agricultura da molécula N-acetilcisteína (NAC) e seus análogos, foi anunciada como a ganhadora brasileira do prêmio Ingenias LATAM 2025 por sua invenção protegida em nível nacional para o tratamento e a prevenção de doenças bacterianas em plantas de citros, que produzem frutas como laranjas, tangerinas e limões. O prêmio é uma iniciativa do Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia (EUIPO, na sigla em inglês), no âmbito do projeto AL-INVEST Verde DPI financiado pela União Europeia. Seu objetivo é dar visibilidade e impulsionar o talento feminino no campo da propriedade intelectual (PI) e da inovação na América Latina. A cerimônia de premiação ocorreu em 4 de setembro na sede do Instituto Nacional de Propriedade Industrial do Chile (INAPI), em Santiago do Chile, co-organizador e anfitrião dessa primeira edição do prêmio, focado em mulheres inventoras com invenções protegidas por direitos de PI.

Molécula conhecida, uso inovador

A ideia que levou à invenção da pesquisadora brasileira surgiu após o sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa e entendimento de como essa bactéria causava doença nos citros. Bióloga e pesquisadora no Instituto Agronômico IAC, no estado de São Paulo, com doutorado em biologia molecular com foco na interação planta-patógeno, Alessandra se dedica há anos a estudar as bactérias que afetam severamente a citricultura brasileira. Ao notar a falta de soluções eficazes e ambientalmente seguras para combater doenças bacterianas, decidiu investigar o potencial de uma molécula conhecida da medicina humana — a N-acetilcisteína (NAC) — como ferramenta agrícola.

“A NAC é uma molécula já conhecida, mas ninguém tinha pensado em usá-la para tratar plantas. Nosso diferencial foi ter coragem de pensar fora da caixa e enxergar o que outros não viam”, acrescentou Alessandra.

Foi assim que nasceu a invenção premiada: uma composição agrícola à base de NAC, capaz de inibir biofilmes bacterianos em plantas, restaurar o fluxo de seiva e reduzir os danos causados por doenças como a clorose variegada dos citros e o cancro cítrico. Com ação antimicrobiana e antioxidante, o composto também ajuda a mitigar estresses ambientais como a seca ou a presença de metais pesados.

Inspiração para mulheres

A inovação, que já foi protegida com PI no Brasil, e está em fase de proteção em outros países, é versátil, acessível e segura para o meio ambiente e os consumidores. Para a pesquisadora brasileira, inspirar outras mulheres na ciência é parte essencial de sua trajetória.

“Ainda enfrentamos desafios, mas mostrar que é possível chegar até aqui, sendo mulher, cientista e líder, abre caminhos para outras”, afirmou Alessandra.

A invenção levou à criação de uma startup focada em sua aplicação no campo, e possui impacto direto na citricultura brasileira, especialmente no estado de São Paulo, onde a pesquisadora reside e que é responsável por cerca de 80% da produção nacional de laranjas. Atualmente, o Brasil lidera o mercado global de suco de laranja, com aproximadamente 70% da produção mundial.

Nesse contexto, as doenças bacterianas representam uma ameaça constante à produtividade e à sustentabilidade dos pomares.

“O que me move é pensar numa agricultura mais limpa, que preserve o meio ambiente, a saúde das pessoas e a produtividade agrícola. A ciência pode — e deve — contribuir para isso”, concluiu a pesquisadora, cuja solução oferece uma alternativa científica promissora para proteger essa cadeia essencial à economia e à segurança alimentar global.

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